quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Historiador paralisa o tempo presente.


Cabe ao presente abrir diálogo com o passado, uma vez que o ontem não se cansa de gesticular em direção ao hoje. Cabe ao sujeito revolucionário o gesto de fazer e refazer a história, para que nossos mortos, e seus sonho, não fiquem entregues ao inimigo. Trata-se de reconhecer os momentos de tensão, de perigo e retirar deles as centelhas de esperança contidas em cada uma das situações, para que estas centelhas se libertem e iluminem o presente. A reflexão sobre o que esta acontecendo está vinculada àquela sobre o que aconteceu, e a verdade continuará sempre a nos escapar enquanto o presente, em sua ânsia de progresso, abortar o passado em busca do futuro. O presente não é mera passagem para o futuro, mas o tempo que o historiador deve paralisar para escrever a história.
O passado não pode ser encarado de forma definitiva, incontestável, é preciso desencantá-lo, deixando-o em aberta relação com o hoje, capturando, no dito, o não-dito, e , no feito, o não realizado, aquilo que foi desejado, mas reprimido; despertando os sonhos adormecidos pelo véu da história, sonhos realizados anteriormente e que foram sufucados; oxigenando-os para que venham à tona, invadam e impulsionem o presente e o futuro. "Cada época não somente sonha a seguinte a seguinte, mas ao sonhá-la a força a despertar" (Benjamim, apud Rouanet, 1990, p.91). Os sonhos coletivos de ontem não cessam de esperar respostas da atualidade; frustrados historicamente buscam incessantemente serem revitalizados, trazendo seu potencial transformador.
Flávio Desgranges (A pedagogia do espectador)

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