quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tesouros de terça-feira de manhã



Por Fernanda Brito

Vó Senhorinha é uma senhora forte de 87 anos que já passou por muita coisa na vida. Como toda vó já passou muita coisa na vida não há nada de surpreendente nesse fato. A vó já aguentou derrames, infartes, câncer, dores, perda dos dentes, do grande amor, de irmãos, do marido, a vó parece frágil mas é forte como um touro.
Ninguém marca nada com ela e deixa de cumprir. Não é coisa de velha, nem é por ser cricri, é que quando você marca com alguém tem que estar lá.
Dá pra ver a vó envelhecer, sem grandes doçuras de contos e textos bonitos. A gente envelhece, cria rugas, dores novas, vai ficando frágil e miúdo.
Minha vó, como toda vó, é um poço de inspiração. No meu caso, apaixonada pelos tempos idos, minha vó é quase uma epifania caminhante. Verter água é ouvir ela falar as coisas mais sinceras e singelas que sua educação campesina permite. Chamar a empregada de APICÓRNA e concluir que é por causa desse fato que ela faz tudo exatamente o contrário do que minha vó pede (APICÓRNA também é conhecida como CAPRICORNIANA), me chamar de solteirona porque:"Quem casou no mesmo dia da sua mãe já é avó!" e outras pequenas coisas que constituem essa senhora que eu respeito e amo demais é um privilégio. Estão aí os tesouros. Encontrar a singeleza de uma conversa sobre o tempo com ela. Me sentir de alma afagada de vê-la no trato com suas coisas. Observar o juntamento de cacarecos que é sua casa e admirá-la por manter esse hibridismo de tempos dentro daquelas paredes, forradas de imagens de santo e de um apego no Deus. A grandeza não está no conhecimento nem nos livros. Está no meu pequeno tesouro de terça-feira de manhã. No tesouro dessa visita. Vertendo água durante uma conversa por ver materializada minha ancestralidade e toda a beleza da minha crença na memória. No tesouro de reconhecer nossa efemeridade. Todo mundo devia vezenquando encontrar sua vó, fofa, ou uma vó fofa mesmo que emprestada e entender que a gente é pequeno, efêmero, frágil, quase nada. Essa mulher forte, mãe, toda sangue e coração (mesmo sem se reconhecer sangue e coração) é uma arca de tesouros e de sabedoria.

"E a gente vai até onde Deus permitir né fia? Só por ele que a gente segue!"

(As rosas são da roseira dela naquele quintal que eu brinquei tanto quando grãozinha)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Historiador paralisa o tempo presente.


Cabe ao presente abrir diálogo com o passado, uma vez que o ontem não se cansa de gesticular em direção ao hoje. Cabe ao sujeito revolucionário o gesto de fazer e refazer a história, para que nossos mortos, e seus sonho, não fiquem entregues ao inimigo. Trata-se de reconhecer os momentos de tensão, de perigo e retirar deles as centelhas de esperança contidas em cada uma das situações, para que estas centelhas se libertem e iluminem o presente. A reflexão sobre o que esta acontecendo está vinculada àquela sobre o que aconteceu, e a verdade continuará sempre a nos escapar enquanto o presente, em sua ânsia de progresso, abortar o passado em busca do futuro. O presente não é mera passagem para o futuro, mas o tempo que o historiador deve paralisar para escrever a história.
O passado não pode ser encarado de forma definitiva, incontestável, é preciso desencantá-lo, deixando-o em aberta relação com o hoje, capturando, no dito, o não-dito, e , no feito, o não realizado, aquilo que foi desejado, mas reprimido; despertando os sonhos adormecidos pelo véu da história, sonhos realizados anteriormente e que foram sufucados; oxigenando-os para que venham à tona, invadam e impulsionem o presente e o futuro. "Cada época não somente sonha a seguinte a seguinte, mas ao sonhá-la a força a despertar" (Benjamim, apud Rouanet, 1990, p.91). Os sonhos coletivos de ontem não cessam de esperar respostas da atualidade; frustrados historicamente buscam incessantemente serem revitalizados, trazendo seu potencial transformador.
Flávio Desgranges (A pedagogia do espectador)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Manda-me notícias...


por Fernanda Brito

O chamado veio, num dia triste e seco.
Dia de choro cansado.
Olhei tudo em volta com mais tristeza que sempre.
Ouvi numa brisinha o riso desavergonhado, um "vem menino" de memória
Tirei força de dentro pra deixar o abraço imóvel na casa chorosa e vazia de riso, cantalorei a do passarinho, sem medo na rua.
"como eu chorei"

"Assum preto meu cantá, é tão triste como o teu.
Também robaro o meu amô, ai
Que era a luz, ai
Dos olhos meu..."

Sobre dias de luto




Preza dentro de incertezas: de manhã um céu azul,à tarde já tomando forma trocando a cor.Coração na mão ,boca, e então ele volta ao seu lugar.As batidas que há dias descompassadas agora em um ritmo mais acelerado.Já havia me esquecido o gosto da lágrima,hoje com o terceiro dia de choro coloquei a língua pra fora e senti.
De hora em hora lembro-me daquele sorriso largo,a luz bonita e rara.Não me deparo há tempos com gente assim , convivo em um mundo de sorrisos falsos,pessoas de almas escuras.Ela não,sempre cercada de sonhos, um pouco Maria subindo no pé de manga,brincando com tatu bola, menina mulher.
E agora já não me cabe pensamentos, lembranças, somente a impotência diante do movimento das pedras.Só espero; pode-se chamar de fé, os mais religiosos às vezes chamam a esperança assim.Agora é noite, não posso prever o céu.


quinta feira ,11 de agosto de 2011.


Andressa Machado.





domingo, 18 de setembro de 2011

Oração de Santo Agostinho

A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.

A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria fora de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?
Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas,
não chores mais.

setembro.

É tão raro eu chorar. E é por isso que hoje é um rito de passagem... da minha necessidade de isolamento e da minha falta de forças pra enfrentar o mundo. Eu estava sentada no muro como não fazia desde a minha infância, e fiquei me observando de cima, pequena, sentada com a minha vó descascando e comendo laranjas no degrau da escada. Fazia tempo que eu não lembrava disso e que essa cena não me parecia tão viva. Depois disso eu só consegui inconscientemente olhar para a horta da varanda no segundo andar. Aquela varanda só era bonita por causa da vida naquela casa. Só me era tão bonita porque alguém cuidava dela. E porque ali tudo transpirava amor. Tão verdadeiro isso... Os lugares só tem vida e ganham significado pelas pessoas que ali passaram e que os cultivaram. E quando eu observei a foto, com a pele da minha vó marcada pelos anos, com aquele lencinho bonito verde claro amarrado largo no pescoço e a laranja vermelha na mão, (eu nunca tinha visto uma laranja vermelha), foi impossível não ficar paralisada olhando por alguns minutos aquela imagem. E só pra mim ela ia significar isso. A minha alma me disse pra eu ficar um pouco tempo a mais naquele lugar. Manhã bonita, tarde bonita, só depois disso eu poderia voltar pra casa. E só com mais alguns dias para pensar, sentir e entender... esses sinais todos que a vida nos manda e que nesse meu tempo lento, eu demoro pra processar e compreender (ou eles tem o tempo deles pra gente compreender). A vida, a saudade, o tempo e a continuidade. O que a gente faz com tudo que acontece e nos surpreende. Sigamos leves e atentos, e sempre com amor. Evoé.

Tatiana Plens

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Dia do Ator

Este dia do Ator gostaria de oferecer a Atriz mais linda que pude conhecer e que prematuramente nos deixou: Mariana Alves.

Menina de sorriso largo, que com ele desperigava qualquer malícia, qualquer seriedade. Sabia como ninguém se divertir em cena, jogar e com isso fazernos derreter na platéia com tanto brilho.
Ontem você fez uma viagem... Talvez a mais longa. Dizem que quando morremos somos recebidos no céu por aqueles que nos amam e tbm aqueles aos quais nos identificamos. Acho que sua recepção deve ter sido comtemplada desde Elis Regina até Giulietta Masina que assim como você, sabiam nos emocionar como ninguém.
Minha menina. Minha amiga. Minha irmã.
Todos os meus dias, em todos os papéis que tiver a honra de desempenhar serão dedicados à você.
Obrigado por ter existido e transformado a minha vida.
Sentirei saudades até o dia que poderei ser recebido no céu por você, e reencontrarei este lindo sorriso inesquecível.
Te Amarei eternamente.

Merda!
Evoé!

Seu irmão Julinho.

sábado, 13 de agosto de 2011

O que o Vento não levou

foto: Fabricio Vianna


Abri os meus olhos para tudo o que construímos, revivi as lembranças das casas portentosas e as mais peculiares que abrigaram a nossa poesia. O Desterro foi uma luz que dividimos em meio a tantos árduos trabalhos corridos. No brilho da cantoria dos momentos de aquecimento, surge as novas amizades e aquelas que o destino incumbiu de fortalecer mais e mais. Brilha mais e mais. Sinto nos corações de muitos, a vontade de seguir avante! Seguir avante!
Mas o fato de chegarmos juntos até aqui, não encerra na possibilidade de que todos juntos seguiremos. Mas reverencio a lembrança feita e construída, pois sou uma profissional do que é humano. Diante das crises de nossa convivência pessoal, vem um vento forte, abala nossas estruturas e todas as discussões tornam-se levianas. Como diz Mario Quintana:
No fim tu hás de ver
que as coisas mais leves são as únicas coisas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo,
um carinho no momento preciso,
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Quando nos deparamos com o medo da perda, nos prostramos humildemente ao que não está ao nosso alcance.
Eliane Ribeiro

quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Manda-me notícias ou mesmo uma flor, que sejam carícias e provas de amor"**



por Fernanda Brito

"Hoje passei por entre uma selva de prédios cinza. Por prostitutas vendendo seu amor por poucos trocados. Por gente desacreditada e por gente que tinha alguma chamazinha crescente no meio do peito. Umas mais acesas outras com só uma faisquinha.
Hoje dei um passeio pelo mundo.
Senti um arrepiozinho já conhecido do lado direito, uma luzinha e um frio na barriga. Algo me chamava baixinho.
Segui pela rua já conhecida sem nem pensar em negar o chamado. A gente pode ignorar quase sempre, mas hoje me deixei levar por esse calorzinho que sufoquei em outros dias por capricho. Ou até pra prolongar a sensação.
Sei que fui descendo a rua devagar. E se digo isso não é pela poesia. É porque pensei enquanto atravessava a rua que isso deveria ser um SENHOR MOMENTO.
Decidi que desceria a rua devagar, decorando cada aspecto do caminho, que era pra manter na lembrança coisa tão miúda que é a ruazinha estreita e quase sem movimento.
Fui deixando revelar o prédio branco encardido, de formas quadradas e tão retas. Fui me deixando apreciar uma, duas, três janelas, a visão das portas verde usado. Aquele aspecto de tesouro do fundo do mar, intacto e meio esquecido. Um trambolhão velho e sujo perdido ali naquela ruazinha estreita.
Trambolhão bonito.
Entendi um pouco mais da memória, de como ela se processa. Entendi porque uma onda imensa veio e me molhou inteira de saudade. Eu entendi de saudade mais uma vez. Eu vi, ali, naqueles poucos segundos todos os dias que a gente passou por ali, meio sem perceber que já era saudade.
Reclamei baixinho da sujeira que as pombas, agora senhoras dali novamente, tinham deixado na entrada que a Mari limpava. Olhei a fechadura improvisada da porta com escada, que continua a mesma, intacta. Um arame que provavelmente era cabo do girassol imenso da Maria. Fui caminhando como se fosse um pouco dona do espaço. Tentei ver pequenas modificações, se havia algum vidro quebrado.
Nenhum NOVO vidro quebrado, só os de sempre. Olhei a janela da mulher memória e fiquei pensando que os vizinhos devem ter se assustado como eu no dia em que da esquina se ouvia um barulhão de martelo e vidro espatifando. E o Júlio pendurado na janela tirando os cacos de vidro como se fosse algo que a gente visse sempre.
Fui olhar o jardim, que era a minha parte preferida da casa, e qual não foi minha surpresa de vê-lo com aquela aparência queimada do início. Um buraco cavocado talvez por gato, talvez por gente. E desavergonhada a dama da noite tomando conta de metade do quadrado, com uma cara cansadinha, e folhas um pouco amareladas, mas lá, firme. Rodeando o verde e imponente (que julguei mal no início) ramo de espada de São Jorge. Ele por quem eu não dava nada, continua lá guardando nosso tesouro.

Pensei que deixamos nossos pedacinhos por lá. Olhei pra sala preta com saudade. Fiquei uns segundos admirando aquele casarão que parecia imenso, agora tão pequeno.
É verdade. As coisas ficam miúdas depois de um tempo.
Senti e sinto saudade. Senti e sinto aquela casa com saudade da gente.
Declarei silenciosa o amor que tenho por aquele espaço e segui meu passeio pelo mundo.
O chamado acalmou e me deixou ir também. Por hora...

(lembrei enquanto escrevia que em noites de domingo como essa, depois do espetáculo, era comum ouvir "Como eu chorei" tocando no baile da saudade do Sorocaba Clube e lembrar da Jana cantando bonito no Vesperais...)

Nem preciso dizer que saí de lá, como boa chorona, de rosto inchado."


*Foto Fabrício Vianna (Desterro no Casarão da CPFL 1ª temporada)




**O título foi tirado deste cartão postal antigo (abaixo) que fez parte do início do meu processo de Desterro lá em Agosto de 2009




terça-feira, 12 de julho de 2011

Ou mudamos ou morremos


Hoje vivemos uma crise dos fundamentos de nossa convivência pessoal, nacional e mundial. Se olharmos a Terra como um todo, percebemos que quase nada funciona a contento. A Terra está doente e muito doente. E como somos, enquanto humanos também Terra (homem vem de humus=terra fértil), nos sentimos todos, de certa forma, doentes. A percepção que temos é de que não podemos continuar nesse caminho, pois nos levará a um abismo. Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construimos o princípio de auto-destruição. Não é fantasia holywoodiana. Temos condições de destruir várias vezes a biosfera e impossibilitar o projeto planetário humano. Desta vez não haverá uma arca de Noé que salve a alguns e deixa perecer os demais. O destino da Terra e da humanidade coincidem: ou nos salvamos juntos ou sucumbimos juntos.
Agora viramos todos filósofos, pois, nos perguntamos entre estarrecidos e perplexos: como chegamos a isso?
Como vamos sair desse impasse global? Que colaboração posso dar como pessoa individual?
Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador de nossas sociedades hoje mundializadas, principal responsável por esse curso perigoso. É o tipo de economia que inventamos. A economia é fundamental, pois, ela é responsável pela produção e reprodução de nossa vida. O tipo de economia vigente se monta sobre a troca competitiva. Tudo na sociedade e na economia se concentra na troca. A troca aqui é qualificada, é competitiva. Só o mais forte triunfa. Os outros ou se agregam como sócios subalternos ou desaparecem. O resultado desta lógica da competição de todos com todos é duplo: de um lado uma acumulação fantástica de benefícios em poucos grupos e de outro, uma exclusão fantástica da maioria das pessoas, dos grupos e das nações.
Atualmente, o grande crime da humanidade é o da exclusão social. Por todas as partes reina fome crônica, aumento das doenças antes erradicadas, depredação dos recursos limitados da natureza e um ambiente geral de violência, de opressão e de guerra.
Mas reconheçamos: por séculos essa troca competitiva abrigava a todos, bem ou mal, sob seu teto. Sua lógica agilizou todas as forças produtivas e criou mil facilidades para a existência humana. Mas hoje, as virtualidades deste tipo de economia estão se esgotando. A grande maioria dos países e das pessoas não cabem mais sob seu teto. São excluidos ou sócios menores e subalternos, como é o caso do Brasil. Agora esse tipo de economia da troca competitiva se mostra altamente destrutiva, onde quer que ela penetre e se imponha. Ela nos pode levar ao destino dos dinossauros.
Ou mudamos ou morremos, essa é a alternativa. Onde buscar o princípio articulador de uma outra sociabilidade, de um novo sonho para frente? Em momentos de crise total precisamos consultar a fonte originária de tudo, a natureza. Que ela nos ensina? Ela nos ensina, foi o que a ciência já há um século identificou, que a lei básica do universo, não é a competição que divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui. Todas as energias, todos os elementos, todos os seres vivos, desde as bactérias e virus até os seres mais complexos, somos inter-retro-relacionados e, por isso, interdependentes. Uma teia de conexões nos envolve por todos os lados, fazendo-nos seres cooperativos e solidários. Quer queiramos ou não, pois essa é a lei do universo. Por causa desta teia chegamos até aqui e poderemos ter futuro.
Aqui se encontra a saida para umo novo sonho civilizatório e para um futuro para as nossas sociedades: fazermos desta lei da natureza, conscientemente, um projeto pessoal e coletivo, sermos seres cooperativos. Ao invés de troca competitiva onde só um ganha devemos fortalecer a troca complementar e cooperativa, onde todos ganham. Importa assumir, com absoluta seriedade, o princípio do prêmio de economia John Nesh, cuja mente brilhante foi celebrada por um não menos brilhante filme: o princípio ganha-ganha, onde todos saem beneficiados sem haver perdedores.
Para conviver humanamente inventamos a economia, a política, a cultura, a ética e a religião. Mas nos últimos séculos o fizemos sob a inspiração da competição que gera o individualismo. Esse tempo acabou. Agora temos que inaugurar a inspiração da cooperação que gera a comunidade e a participação de todos em tudo o que interessa a todos.
Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior. Urge começar com as revoluções moleculares. Começemos por nós mesmos, sendo seres cooperativos, solidários, com-passivos, simplesmente humanos. Com isso definimos a direção certa. Nela há esperança e vida para nós e para a Terra.

por Leonardo Boff

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Rua Scuvero, 287

Porta que só abre para o natal e varanda pra guardar pó. Cada casa tem a sua história e a gente vira tudo de ponta cabeça... abrindo portas, transportando camas, levando o armário antigo a despencar portão a fora, juntando tudo tudo tudo em um quarto e uma cozinha. Tudo reluzindo vida e ganhando novas formas... De repente a gente não tá ali pra dar som para aqueles pisos e paredes, mas pra pedir licença, pra incorporar uma vida toda ali dentro... pulsante, viva e simples, de coração aberto e mente tranquila.
Seu Lourenço e Dona Laudeci, nomes perfeitamente bonitos para um texto e extremamente vivos na nossa mente, pela presença, pelo auxílio e por todo o carinho que nos deixou de coração quente.

Eu aprendi que o convívio é breve e a cada dia ganha um pedacinho a mais pra guardar. É como uma caixinha que a gente começa a construir e não acaba mais. E nem poderia acabar. A gente vai deixando música, sorriso e bagunça e vai mudando a rua. Meus quatro dias inteiros ganharam ar de importância quando veio a vizinha me contar que a gente tinha mudado a rua. E quando aqueles vizinhos todos vinham me perguntar o que acontecia e achavam que era bonito ter teatro ali na rua.

No meio disso tudo, eu só podia dizer mas tchê, mas bah, depois de tantas conversas com os gaúchos, e que tem gente que bota a mão na massa pra ajudar, nem que seja pra quebrar a cabeça com a luz, ou pra iluminar uma manhã-quase-tarde com belas conversas (afinal o dia só tardeia quando a gente come). Botei cor no mundo depois que tudo se foi com palavras. E é dessas magias que a gente faz. Mas quem tem o dom, de verdade, coloca o medo pra brincar de coragem e abre as portas do seu existir pra nos deixar ser um pouco da vibração daquela casa. E a gente só agradece. De forma bonita e singela. E com um adeus, que sempre esperamos ser breve.


"Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores."


Manoel de Barros


Texto e foto: Tatiana Plens

Na cidade cinza





"O quintal é maior que a cidade, só que a gente só descobre depois de grande"...

Manoel de Barros

Cabe ao coletivo cê descobrir a cidade grande na experiência que tivemos no Festival Fora do Eixo- Etapa Palco, alem de experimentar os sabores de cada regionalidade nele presente, os meninos de Santa Maria-RS, os de Uberaba-MG, de Ribeirão Preto, de Bauru, Araraquara e Salvador. Isso sem contar a equipe da casa FDE São Paulo que experimenta o desterro na cidade cinza.
Tivemos o privilégio de ocupar como espaço cênico a casa da Dona Laudeci, primeira vivência do coletivo numa casa habitada por três famílias e um cagado.
A casa dessa vez abrigava calor humano, tem cheiro, tem vida.
A Desterro aconteceu diferente, aconteceu vivo e pulsante, pois tratamos de família, casa, cheiro, gosto e amor.

Ah que família abençoada, dentro dessas casa não há de faltar nada.

Hércules Soares


sexta-feira, 24 de junho de 2011











Ação coletiva

Artistas da cena independente de Sorocaba e de Votorantim participam de Festival Nacional Fora do Eixo; para eles, o evento é uma forma de disseminar produções para diversas cidades de todo o Brasil

Fernanda Ikedo
Agência BOM DIA

Uma grande conquista para a cena cultural de Sorocaba, Votorantim e outras cidades da região é a criação de coletivos independentes, que se juntaram a uma grande rede nacional, chamada Circuito Fora do Eixo.


Entre os participantes dessa rede está o Coletivo Cê, que reúne artistas de Sorocaba, Votorantim e São Paulo e que tem como carro-chefe de produção a peça “Desterro”. Ela será apresentada neste sábado (25), durante a segunda edição do Festival Fora do Eixo, na Capital.

O ator Hércules Soares, 22 anos, explica a importância da oportunidade de participar desse festival. “O Coletivo Cê tem quatro anos e há um ano integra o Fora do Eixo. Para nós, este festival é fundamental para a troca de contatos com artistas e grupos de todo o país”, destaca.

Entre as possibilidades proporcionadas pelo Fora do Eixo, está a maior facilidade para a realização de turnês por várias cidades.

A coordenadora nacional do Palco do Fora do Eixo, Cláudia Schulz, 28, que mora em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, explica que ocorre uma aproximação entre os artistas de grupos cênicos, danças e outras linguagens corporais. “A proposta é que a gente consiga fomentar uma cena mais dinâmica para divulgar as peças que são produzidas nos circuitos independentes”, diz.

Verba/ Uma das principais reclamações dos artistas para se fomentar a arte no país é a questão financeira. “Para a vinda do coletivo a São Paulo contamos com parcerias, como o Sindicato dos Metalúrgicos que contribuíram com o porte”, destaca Hércules.

Por isso, a rede criada pelo Fora do Eixo, com mais de cem coletivos, contribui para levar uma peça produzida no Rio Grande do Sul a São Paulo ou Sorocaba. “Os coletivos que integram a rede ajudam no que podem, às vezes com alojamento, com parcerias, indo atrás de patrocínios”, conta Cláudia.

Peça/ O espetáculo “Desterro” envolve dança e teatro, abordando o tema do patrimônio imaterial, a memória e recebeu patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, pela qual foi feita uma temporada de quatro meses em Sorocaba, e do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo. Com esse patrocínio, os artistas apresentaram “Desterro” em São Roque, Itu e Iperó.

Acesse
O Coletivo Cê mantem informações sobre suas pesquisas no blog: coletivoce.blogspot.com.

União
O Coletivo Rasgada Coletiva, de Sorocaba, também está participando do Festival Fora do Eixo.

Intercâmbio
“É uma moeda solidária para fomentar a cena cultural”, explica Cláudia Schulz, coordenadora do projeto “Palco”, braço do festival , a respeito do suporte dado aos artistas pela rede do circuito Fora do Eixo (formado pelos coletivos culturais ).

Atenção
O Coletivo Cê apresenta-se neste sábado (25), às 18h e 21h, na rua Scuvero, 282, Aclimação

Fonte: Site do Jornal Bom Dia Sorocaba

terça-feira, 21 de junho de 2011

Coletivo Cê apresenta o espetáculo Desterro no Festival Fora do Eixo

O Coletivo Cê apresentará o espetáculo Desterro em São Paulo no próximo sábado, dia 25 de junho. A apresentação faz parte da programação do Festival Fora do Eixo – Etapa Palco, que acontece entre os dias 23 e 26 de junho, com espetáculos, debates, oficinas e intervenções, envolvendo agentes cênicos de diferentes regiões do Brasil na Casa Fora do Eixo São Paulo.
O Coletivo Cê terminou a temporada de circulação do espetáculo Desterro por meio do PROAC (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo) no último mês, pelo qual se apresentou e produziu oficinas teatrais nas cidades de São Roque, Itu e Iperó.
O projeto Desterro - Investigação e Preservação da Memória teve início em Agosto de 2009 e é parte da pesquisa de linguagem e experimentação cênica do Coletivo Cê. O “processo de desterro” se deu a partir da investigação da memória, do compartilhamento das histórias e recordações pessoais dos atores/criadores integrantes do projeto. A memória é aquela onde identificamos nossa origem, as histórias dos avós, as imagens de outro tempo, as músicas e brincadeiras da infância; os sabores, cheiros e sensações do imaginário do passado de cada um de nós, das experiências que carregamos ao longo da vida. Buscando abarcar as criações partindo da idéia de que somos feitos das memórias que carregamos.
O projeto prevê ainda estabelecer diálogo com espaços de patrimônio histórico e propõe sua ressignificação através da experiência teatral, buscando ampliar a reflexão a cerca de patrimônio imaterial e material e a importância de preservarmos nossa identidade cultural.
O espetáculo Desterro narra a trajetória poética de um jovem que está saindo de casa e através de um mergulho em imagens, sensações, músicas e fatos da sua vida - passado, presente e futuro que se fundem, como num mosaico de devaneios – parte para um reconhecimento de si mesmo, do seu lugar de origem, das suas urgências. Um passeio pelo tempo através da memória, em que o espaço, o texto, os atores e os espectadores co-criam a história que pode também ser a de todos nós.
As apresentações ocorrerão no dia 25 de junho às 18h e às 21h na Rua Scuvero, 282, Aclimação, São Paulo/SP. A lotação máxima por sessão é de 20 pessoas e é preciso retirar o ingresso uma hora antes do espetáculo na Casa Fora do Eixo São Paulo. A participação do Coletivo Cê no festival tem apoio do Coletivo Fora do Eixo e do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Olha, meu amor, eu estou voltando...



Homem simples, pequeno, chapéu na cabeça, camisa xadrez e um lenço vistoso preso com a figura de um boi. Era um dia importante. Nos abraçou com carinho e já começou a tirar as histórias do bolso - o quanto é mentira ou verdade não sabemos, mas pouco importa. Nosso eterno contador de histórias nos encheu de encantamentos. Só essa imagem já me arrancava lágrimas dos olhos.

Pisar novamente no Sítio Santo Antônio em São Roque foi como tocar a pele da memória recente, mas já gasta. Foi pra ter certeza de que o tempo conseguia carregar aquele carinho nos braços por muito tempo. Foi também pra saber que a saudade e o vazio que nos atingiu depois de deixar aquele sítio no início do ano não foi sentido somente por nós. Bonito ouvir como as canções estavam de certa forma fincadas naquele lugar e como nós conseguimos modificar e reavivar aquela paisagem para quem convive com ela todos os dias. Só ouvir isso já nos fez sentir que estamos no caminho certo. Tão belo o abraço e a felicidade da Rosa em nos encontrar. Tão bonito nos depararmos com os detalhes que ela constrói e perceber como tudo que ela faz é cheio de cuidado e amor. Tão belo o presente que eles nos deram e nem sabem. Dessa vez foi a vez deles de nos carregar pela infância, pelas festas vistosas que há tempos não víamos, de nos encher o coração de luz em uma noite tão fria.

"O mundo era um pedaço complicado para o menino que viera da roça. Não vi nenhuma coisa mais bonita na cidade do que um passarinho. Vi que tudo o que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel. Só o que não vira sucata é ave, árvore, rã, pedra. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial." (Manoel de Barros)

Tatiana Plens

segunda-feira, 9 de maio de 2011

De tempo



Eu nunca entendi muito bem o porque, mas sempre fui apaixonada por um tempo que não vivi. Saudade da simplicidade de coisas sem telas coloridas ou comandos de voz. De quando se podia ouvir o rádio falando nas casas, não a TV. De longos vestidos bordados, e não ser de bom tom uma moça caminhar sozinha na rua. De quando criança, brincar com bonecas de pano, panelinhas de lata.
Quando o processo de Desterro se iniciou há quase dois anos atrás senti que tinha a oportunidade perfeita para mergulhar nesse tempo que foi. E de fato aproveitei da chance pra buscar por esse universo, já tão íntimo, mesmo sem a compreensão do porque. A sede e a admiração só cresceram.
Tivemos belíssimas experiências em Sorocaba na nossa temporada de estréia, e depois pelas viagens pelo PROAC. São Roque foi mágico. Pelo contato com a terra, com o lago, com o céu sardentinho de estrelas, com a casa do século XVI, que me faz muito honrada pela oportunidade. Nossa Senhora do Desterro na capela, Mário de Andrade com sua busca pelas capelinhas toscas, e o respeito por aquele lugar que já foi tão importante pro poeta e hoje abriga gente humilde e muito, muito boa, de coração enorme.
Em Itu a experiência de trabalhar em uma arquitetura diferente de uma casa nos trouxe novo vigor e ensinamentos, lidando com o onírico, com o que está nos escuros e cantinhos da gente.
Mas hoje.
Hoje em Iperó, na Fazenda Nacional de Ipanema, no segundo dia em que estamos alojados na casa que nos serve de abrigo e cenário para o nosso desterro, meu coração bate de um jeito diferente.
Enquanto eu pesquisava sonoridades e imagens do passado, meu coração batia com uma voracidade de busca e uma dor de saudade, essa saudade de tempos que não vivi. Meu coração hoje bate desse jeito. Estou transportada a esse outro tempo e me sinto completa. Me sinto assustadoramente completa. A dor de saudade marejando os olhos sempre. E descobrindo o gostinho efêmero de mesmo por um segundo silencioso me transportar pra essa época, quando observo a luz do sol refletindo o desenho do portão de madeira no chão, ou vendo o pé de manga da Dona Noemi balançando preguiçoso e derrubando folhas na rua de terra, ladeada de casinhas antigas.
Estou muito grata, transportada.
Eu queria conseguir descrever a COR dos tijolos da calçada, ou descobrir quanto tempo tem o limo que cresce sobre eles .
Queria conseguir tirar da cabeça e explicar qual é a sensação que tenho quando, sentada aqui na calçada, olho pras casas até a outra esquina.
Queria ter pra sempre esse silêncio entrecortado pelos passarinhos, ou o som do rio correndo lá embaixo.
Queria entender porque meus olhos vertem tanta água como agora.
Queria entender de sentimentos ou de tempo pra entender porque ESSE me dá tanta saudade.

por Fernanda Brito
foto por Tatiana Plens- Desterro em Iperó.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Video "Desterro"



Imagens do espetáculo apresentado na cidade de Itu com a realização do Coletivo Cê e PROAC- Edital de Circulação(Governo do Estado de São Paulo).
Imagens: Marina Hungria
Edição de Video: Henrique Ravelli
Música: Heraldo Marins e Henrique Ravelli.

Coletivo Cê apresenta o espetáculo Desterro na Fazenda Ipanema em Iperó




O Coletivo Cê realiza apresentações do espetáculo Desterro na Fazenda Ipanema em Iperó no próximo final de semana, dias 07 e 08 de maio. As apresentações serão realizadas através do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo (PROAC) e em parceria com a Secretaria de Cultura de Votorantim e a Floresta Nacional do Ipanema (FLONA). O coletivo cumpriu temporada da peça teatral em Sorocaba por meio da LINC (Lei de Incentivo à Cultura) e foi contemplado no final do ano passado pelo PROAC, que prevê a circulação e a difusão de espetáculos teatrais pelo interior do estado, além da realização de uma oficina cultural. Pelo projeto, o coletivo já realizou apresentações em São Roque, Itu e se encerra em Iperó.

O projeto Desterro - Investigação e Preservação da Memória teve início em Agosto de 2009 e é parte da pesquisa de linguagem e experimentação cênica do Coletivo Cê. O “processo de desterro” se deu a partir da investigação da memória, do compartilhamento das histórias e recordações pessoais dos atores/criadores integrantes do projeto. A memória é aquela onde identificamos nossa origem, as histórias dos avós, as imagens de outro tempo, as músicas e brincadeiras da infância; os sabores, cheiros e sensações do imaginário do passado de cada um de nós, das experiências que carregamos ao longo da vida. Buscando abarcar as criações partindo da idéia de que somos feitos das memórias que carregamos.

O projeto prevê ainda estabelecer diálogo com espaços de patrimônio histórico e propõe sua ressignificação através da experiência teatral, buscando ampliar a reflexão a cerca de patrimônio imaterial e material e a importância de preservarmos nossa identidade cultural.

O espetáculo Desterro narra a trajetória poética de um jovem que está saindo de casa e através de um mergulho em imagens, sensações, músicas e fatos da sua vida - passado, presente e futuro que se fundem, como num mosaico de devaneios – parte para um reconhecimento de si mesmo, do seu lugar de origem, das suas urgências. Um passeio pelo tempo através da memória, em que o espaço, o texto, os atores e os espectadores co-criam a história que pode também ser a de todos nós.

As apresentações ocorrerão nos dias 07 e 08 de maio às 17h na Fazenda Ipanema, localizada a 30 km do centro de Iperó, com acesso pela saída 99B da Rodovia Castelo Branco ou pelo km 112 da Rodovia Raposo Tavares. A entrada é gratuita e a lotação máxima é de 40 pessoas. A Secretaria de Cultura de Votorantim disponibilizará transporte gratuito para o espetáculo no sábado. O ônibus sairá do Teatro Municipal de Votorantim às 16h e é necessária a inscrição antecipada. Maiores informações pelo telefone (15) 3243-1191.


Coletivo Cê participa de seminário de Patrimônio Imaterial


O espetáculo Desterro faz parte também da programação do 1º Seminário de Patrimônio Imaterial de Votorantim organizado pela Secretaria de Cultura de Votorantim, com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Logo após os debates no evento, os participantes terão a oportunidade de assistir ao espetáculo, construído a partir de pesquisas sobre oralidade e memória.


Programação:

9h - Coffe Break

10h – Abertura: “Patrimônio Imaterial em Perspectiva” com Simone Toji, do Departamento do Patrimônio Imaterial do IPHAN

12h30 - Almoço

13h30 – Mesa “Oralidade e Espacialidade na preservação do patrimônio imaterial”

Com Clayton Leme, secretário de cultura de Votorantim, e Débora Bergamini, da Secretaria de Cultura de Votorantim

15h30 - Coffe

16h00 - Saída para a Floresta Nacional de Ipanema para espetáculo teatral “Desterro”

18h00 - Retorno a Votorantim

sábado, 30 de abril de 2011

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Viver é um desterrar-se!


Por cada lugar que passamos, a sensação de se apropriar por inteiro de cada canto e encontrar sentido em paredes, chão e janelas. Dar ás cores do Desterro, o som de nossas lembranças e o cheiro de todos os caminhos por onde passamos. Reconhecer cada espaço, é quase como evocar cada uma de nossas figuras ... como se já estivessem ali, todas adormecidas. Passamos por São Roque, onde a tradução do texto poderia ser feita das fotografias do verde e do canto dos pássaros ... uma vontade de ficar, "mas permanecer nos custaria o dobro" .. e nos desterramos para Itu. Em Itu, um casarão repleto de Histórias e de um "sussurro sem som onde a gente se lembra do que nunca soube", encontramos em todos os cantos amarelos a oportunidade de deixar mais uma lembrança, o nosso Desterro. Creio que o Coletivo cê, tem plantado em cada lugar por onde passa bons frutos .. e a colheita não para de acontecer. Viver é um desterrar-se, um caminhar a esmo ... e lá vamos nós levar nossas lembranças, cheiros, vozes e frutos.





Por Giuliana Abona

Foto de Tatiana Plens

segunda-feira, 28 de março de 2011

Dos caminhos.


Desterro esta caminhando, e a estrada parece estar botando sentido no nosso processo. A cada lugar ocupado percebemos a importância de estar aberto ao clima, a textura, o cheiro e as pessoas do lugar, é o trabalho de dialogar com a singularidade da cidade em que passamos.
Em Itu tivemos a Fábrica São Luís, um edifício construído no ano de 1888, lá tinhamos uma concepção de espaço muito diferente das nossas experências, a estrutura de uma fábrica de tecido, a escuridão da noite e os barulhos do lugar. Mas tudo isso foi benevolente de uma certa maneira, tinhamos então um outro espetáculo, desconhecido até por nós, nesses tres dias tivemos um trabalho intenso de apropriação da Desterro, ideias totalmente inusitadas.
Desterro rasgou o ceú de Itu com o vento bom de mudança.


Por Hércules Soares
Foto por Tatiana Plens

domingo, 20 de março de 2011

Coletivo Cê realiza apresentações do espetáculo Desterro em Itu

O Coletivo Cê realiza apresentações do espetáculo Desterro em Itu no próximo final de semana, dias 25, 26 e 27 de março. As apresentações serão realizadas através do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo (PROAC) e em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de Itu. O coletivo cumpriu temporada da peça teatral em Sorocaba por meio da LINC (Lei de Incentivo à Cultura) e foi contemplado no final do ano passado pelo PROAC, que prevê a circulação e a difusão de espetáculos teatrais pelo interior do estado, além da realização de uma oficina cultural. Pelo projeto, o coletivo já realizou apresentações em São Roque, passa por Itu e se encerra em Votorantim no mês de maio.

O projeto Desterro - Investigação e Preservação da Memória teve início em Agosto de 2009 e é parte da pesquisa de linguagem e experimentação cênica do Coletivo Cê. O “processo de desterro” se deu a partir da investigação da memória, do compartilhamento das histórias e recordações pessoais dos atores/criadores integrantes do projeto. A memória é aquela onde identificamos nossa origem, as histórias dos avós, as imagens de outro tempo, as músicas e brincadeiras da infância; os sabores, cheiros e sensações do imaginário do passado de cada um de nós, das experiências que carregamos ao longo da vida. Buscando abarcar as criações partindo da idéia de que somos feitos das memórias que carregamos.

O projeto prevê ainda estabelecer diálogo com espaços de patrimônio histórico e propõe sua ressignificação através da experiência teatral, buscando ampliar a reflexão a cerca de patrimônio imaterial e material e a importância de preservarmos nossa identidade cultural.

O espetáculo Desterro narra a trajetória poética de um jovem que está saindo de casa e através de um mergulho em imagens, sensações, músicas e fatos da sua vida - passado, presente e futuro que se fundem, como num mosaico de devaneios – parte para um reconhecimento de si mesmo, do seu lugar de origem, das suas urgências. Um passeio pelo tempo através da memória, em que o espaço, o texto, os atores e os espectadores co-criam a história que pode também ser a de todos nós.

As apresentações ocorrerão nos dias 25, 26 e 27 de março às 20h no Espaço Fábrica São Luiz, Rua Paula Souza, 492, Itu. Para adquirir o ingresso basta doar um quilo de alimento não perecível na Secretaria de Cultura ou no local até uma hora antes do inicio do espetáculo. A lotação máxima é de 50 pessoas. Maiores informações pelo telefone (11) 4023-0363 ou (11) 8178-5323 ou pelo email coletivoce.imprensa@gmail.com.


OFICINA CULTURAL


A oficina cultural será realizada no dia 26 das 15h às 17h30 no Espaço Fábrica São Luiz. Conduzida pelos integrantes do Coletivo Cê, propõe um contato com o modo de trabalho do coletivo e o processo de criação do espetáculo Desterro. O público alvo são estudantes de teatro, integrantes de grupos de teatro da cidade e interessados em arte em geral. A idade mínima para participar é 15 anos. A participação é gratuita e não é necessário se inscrever antecipadamente.


Ficha Técnica:


Direção: Júlio Mello

Dramaturgia: Janaína Silva

Preparação Corporal: Melany Kern

Contra-Regra: Lucas Maia

Fotografia: Tatiana Plens

Elenco: Hércules Soares, Eliane Ribeiro, Mariana Alves, Giuliana Bona, Fernanda Brito, Andressa Machado

Foto por Marina Hungria

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Desterro – Uma ponte para a lembrança

Lembro que era mais um dia comum de brincadeiras, lembro do céu nublado com um belo tom acinzentado que predominava. Daniele, Bruno e eu, brincamos de balançar nas palhas dos coqueiros da pracinha, como sempre era o Bruno quem conseguia voar mais alto, parecia até que iria cair, mas nunca caía. O cheiro da pracinha era gostoso, a grama era pequena e nos convidava a andar e correr descalços por toda sua extensão. O único banco dessa praça era definitivamente nosso, nossos nomes estavam lá, marcando o lugar que cada um sentava. Hoje os nomes já foram apagados, assim como os coqueiros também não estão mais por lá.
Foi no banco que Daniele e eu tivemos a idéia de limpar toda a rua, ou melhor, todo o quarteirão, deixar ele limpinho. Os pais iriam gostar, os vizinhos também, até a Dona Dolores iria gostar da nossa atitude e não furaria mais as nossas bolas que caíam constantemente em seu quintal. Contamos nossa idéia pro Bruno, que aceitou entusiasmado, mas só depois de planar em mais um de seus lindos vôos gritando “Jerônimooo!”.

Minutos depois já estávamos munidos com todo nosso armamento, uma vassoura e um saco de lixo para cada um. Lembro de como era boa a sensação de limpar tudo, quando a gente é criança não chega nem a cansar, nem se importa com o sol forte, lembro da cara de satisfação de cada um, gargalhávamos, brincávamos durante a limpeza, um espírito novo nos fazia querer ajudar o amigo o tempo todo, segurando o saco de lixo, ajudando a achar as mínimas sujeiras, tudo isso com aquele prazer e alegria que são característicos de uma doce criança no auge de seus 7, 8 anos.

Limpamos tudo, tudo mesmo, enchemos dois sacos em menos de 2 horas, estávamos comemorando e decidimos que iríamos limpar toda a cidade de Sorocaba um dia, se nossos pais nos deixassem sair das redondezas da Rua Alameda do Bosque é claro.

Eu não via a hora de ir buscar o Chantecler em casa, queria levá-lo pra passear e mostrar como o quarteirão estava limpo, ele iria adorar ainda mais sentir o cheiro da rua.
Sonhos são destruídos a todo o momento, e foi isso que aconteceu quando apareceram aqueles dois garotos mais velhos, nos provocando e humilhando por estarmos com as roupas sujas e pelo ato que tínhamos feito. Lembro agora do nó na garganta que surgiu assim que eles foram rasgando os sacos e despejando toda a sujeira no chão, rindo da nossa tristeza, era o fim do nosso sonho de limpar toda a cidade. Estáticas, as três crianças, que já não conseguiam mais segurar o choro, olhavam a sujeira toda aglomerada no chão, sem entender o porquê de tudo isso. O fim de um sonho é sempre trágico para uma criança e exige todo o sofrimento necessário. Voltamos para nossas casas, nunca falamos sobre o ocorrido.
O espetáculo Desterro é para tudo e todos, uma fonte inesgotável de emoções. Emoções que ditaram o rumo dos pensamentos das pessoas que tiveram o privilégio de apreciar essa linda peça teatral.
Pude presenciar o primeiro dia de apresentação, dia este que foi contemplado com a ilustre presença de humildes senhoras e senhores que tiveram, assim como eu, suas memórias mais preservadas resgatadas a cada gesto dos atores, a cada aroma que exalava, a cada dialogo que era sutilmente oferecido as almas emocionadas que estavam presentes.
Um sino tocava enquanto guiava as pessoas, atores e público, até uma capela repleta de uma essência única. O local acrescentava uma atordoante beleza a todo o espetáculo, o lago ao fundo passava uma tranqüilidade, e uma certeza de que, para lá daquele lago, havia o sabor da doce paz inalcançável.
As pessoas subiam os degraus contemplando um solene silêncio, iam se acomodando uma a uma nas dimensões da linda capela.
O mais encantador foi reparar naquela senhora, que segurando sua bengala, vinha mais devagar que os demais. Com dificuldade e uma paciência tranqüilizante, subiu os cinco degraus, um de cada vez, ao ritmo do sino, sentou-se.
“Carro de boi que não geme, não é bom”, isso era cantado suave e constantemente pelos atores enquanto a senhora absorvia tudo com uma expressão invejável de tão linda. Uma mão segurava a bengala, a outra tremia o tempo todo, seu olhar estava perdido nas lembranças que até então eram somente ecos vagos nos confins de sua memória rica e cansada.
A peça caminhou para seu esplêndido final. Com o menino indo em direção ao lago, indo em direção a sua paz, pura e não mais inalcançável. Os aplausos sinceros eram recebidos com uma gratidão inigualável, os olhares emocionados aplaudiam calorosamente todo o privilégio de ser desterrado.
A senhora estava lá, em pé, com os olhos cheios de lágrimas e agradecendo a todas aquelas sensações que lhe foram presenteadas. Uma mão segurando a bengala e a outra balançando suavemente um pano amarelo, a mão que segurava o pano amarelo já não tremia mais.


Por Gil Venturelli

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Nossos dias iluminados no Sítio Santo Antônio



No primeiro dia, a descoberta. Conhecemos os ares do sítio, nos habituamos ao tempo da floresta. Dia longo e calmo, com a chuva a tarde escorrendo sobre nós, todos encantados... dia de surpresas.
Caminho e observo os cômodos espaçosos e vazios, as portas e janelas pesadas e grossas... e a casa parece gigante e carregada de uma atmosfera envelhecida. Vem-me a mente a imagem de um lugar que parou no tempo. Até que por um instante meus olhos fogem por entre as grades da janela e se voltam inebriados à imensidão da floresta, gigante e viva. E a casa, então, me parece tão pequena...

O relógio desse lugar tem outra sincronia. É tão mais lento... e pulsa com o tempo da mata. A floresta é a vida pulsando sem parar, vibrando a cada instante, uma composição repleta de diferentes sons e harmoniosa. A paisagem muda inteiramente com o amanhecer, o sol, a chuva... o som do brejo à noite, os passarinhos ao dia...

Com o passar das horas, fui percebendo... a hora da alimentação dos cavalos, as garças e castores aparecendo após a chuva, o sapo que surge sempre à porta da casa a noite, o som dos galos ao amanhecer. E quando eu penso na cidade e o seu silêncio, mesmo em meio a tanto movimento. Ah, e o céu que a cada noite assume uma cor... Sentei na beira da casa tentando compreender porque à noite a floresta é tão mais viva e cheia de sons.

Segundo dia. O trabalho começou logo cedo e o ritmo foi acelerando até a noite. Pouco tempo para reparar na rotina do sítio, que reservou surpresas mesmo a nós desatentos... uma imagem pequena e singela da Nossa Senhora do Desterro foi encontrada na capela. As lágrimas escorreram facilmente e, logo, chegou a Mariana, ainda no meio de todo o clima de encantamento... energia boa e a luz de Maria. Mariana que chegou e já se encantou com os ares da casa, com a imensidão da mata que se funde a nós nos detalhes... A chuva vem e tentamos enfrentá-la.

Terceiro dia e os últimos preparativos para a estreia. Acordamos muito cedo para o dia que será longo. O céu vem se abrindo inteiro. Aguardamos ansiosamente pelo sol. Sem tempo para pausas. O céu nos engana e a água cai ainda mais forte do que ontem. Manhã apreensiva, tarde rápida, de imprevistos e nervosismo. Esse lugar tem o domínio do tempo. E mais uma vez nos surpreendeu abrindo o céu horas antes da apresentação. O público chegou duas horas antes e foi preciso iniciar o espetáculo mais cedo. É estreia.

O espetáculo mudou o tempo da casa, trouxe uma atmosfera viva. A mata invadiu cada cena, trazendo pássaros, morcegos e dando eco à voz dos atores. A casa cheia, a paisagem de final de tarde, a troca de sensações e impressões, de repente, é tudo novo.

À noite, o calor trouxe os besouros e eram tantos! Ainda houve comemoração regada a vinho e diante de um céu imenso de estrelas. Na escuridão da noite o céu nunca foi tão iluminado.
Quarto dia. Dormimos bem e bastante. Acordamos com o café da Dona Rosa. Sol, sem garças, com a companhia de besouros, mamangavas e mosquitos. Deixamos a natureza ser e nos encantar com o seu tempo - e surpreender o nosso. Conhecemos seu Carrapicho, pai de Dona Rosa, homem vivido e de inúmeros causos que preencheu a nossa tarde com as suas histórias intermináveis.

Noite agitada, prosa na beira da casa, e desatamos a descobrir os ares da mata, saímos a pé com lanternas para chegar um pouco mais perto do lago.

Quinto dia. A família imensa da Dona Rosa encerrou nossa estadia do sítio com uma tarde de encantamentos. A roda de viola acendeu a casa. Organizamos e guardamos nossas coisas espalhadas pelo sítio, caminhamos pela casa e pela mata com ares de despedida e com jeito de quem não quer partir. No final da tarde, alguns amigos que assistiram e se emocionaram com o espetáculo nos outros dias retornaram com a família. A apresentação se encerrou, tivemos algumas conversas breves e terminamos por desmontar as nossas coisas, pausa para o último lanche e a última conversa na varanda. A partida dói. Mas aprendemos: é preciso desterrar-se. Com o coração cheio de luz e amor, partimos mais uma vez.


“Aprende com o tempo a transportar essa saudade da mente para o coração...”

Tatiana Plens

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mas o quê um teatro sagrado poderia ser?


“O teatro é o último fórum onde o idealismo ainda é uma questão aberta.”
(Peter Brook)

Tomei o Coletivo Cê na sexta (04) com destino ao Sítio Santo Antonio e por algum motivo ainda não consegui sair de lá. Na tentativa de explicar o motivo, posso divagar sobre alguns...

Vi um teatro de cores e movimentos, de tecidos finos, de sombras, de palavras poéticas, de silêncios e sussurros, de vôos, de fantasias, de brilhante leveza e de todas as formas de mistérios e surpresas.

Toda essa descrição está apoiada em Peter Brook, falando das glórias do teatro do final da década de 40, “de uma Europa ferida que parecia ter um objetivo comum: recuperar a memória de uma graça perdida.”

Vale a pena destacar trechos do livro do diretor inglês, “O teatro e seu espaço” para traçar paralelos com o trabalho do Coletivo Cê:

“Do incêndio da Ópera de Hamburgo só restou o palco. Mas a platéia se reuniu lá e, num tablado, tendo como fundo o cenário precário, apoiado sobre uma parede nua, alguns cantores se movimentavam, subindo e descendo para interpretar “O Barbeiro de Sevilha”; isto porque, nada podia impedi-los de agir assim.Cinquenta pessoas se amontoavam num sótão muito pequeno, enquanto que nos poucos centímetros que restavam, um punhado de ótimos atores, resolutamente, continuava a praticar sua arte.”

Longe de mim qualquer tipo de comparação com a horrível situação histórica, mas sim, com o teatro sagrado, definido por Brook como o teatro do invisível tornado visível, e na minha visão “Desterro” traz em seu bojo a ressacralização do teatro.

Um teatro servido por um cortejo de atores e diretor devotos, criado a partir de suas próprias vísceras e promovendo uma sucessão de violentas imagens cênicas, que explodem matéria humana.

Brook fala também de termos perdido todo o significado de ritual e cerimônia, mas que as palavras permanecem conosco e que velhos impulsos continuam a agitar-se em nós.

Fomos testemunhas da coragem dos atores na exposição de suas reservas emocionais, do pensamento claro na dramaturgia de Janaina Silva e de toda uma idéia invisível corretamente mostrada por Júlio Mello, que proporcionaram ao público uma experiência que alimentou, acendeu espíritos.

A questão básica: por que afinal o teatro? O Coletivo aponta uma resposta: por objetivos nobres e ser nobre só significa ser decente.

É certo que aqui em São Roque, uma cidade com mais de 350 anos, nós, artistas da região, nos ressentimos de não termos um edifício teatral daqueles de arquitetura austera, cornucópias, cortinas vermelhas e de certa feiúra na decoração, justamente para depois explodir tal espaço e ocupar as ruas, as praças, o Sítio Santo Antonio.

Não podemos fazê-lo ainda, porque temos medo do sol e da chuva atrapalhar nossos ensaios. Há também a possibilidade de sermos “meninos lesmas”, mas há algo mais a refletir...

“No teatro, há séculos a tendência tem sido de colocar o ator numa distância remota, numa plataforma, emoldurado, decorado, iluminado, pintado, com sapatos altos – para convencer o ignorante de que ele é sagrado, de que sua arte é sacra. Era veneração, ou haveria por trás disto o medo de que algo seria exposto se a luz fosse forte demais ou a distância próxima demais? Hoje já expusemos a trapaça. Mas estamos redescobrindo que um teatro sagrado é ainda aquilo que precisamos. Onde curá-lo? Nas nuvens ou na terra?”

Meus agradecimentos a Peter Brook, por me emprestar algumas ideias e palavras para traduzir aquilo que eu estava sentindo, e ao Coletivo Cê, pelo qual estou esperando para me ajudar a voltar para a casa.

Minha mala está pronta...

Lisa Camargo
CiadeEros
Verão, 2011