quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Nossos dias iluminados no Sítio Santo Antônio



No primeiro dia, a descoberta. Conhecemos os ares do sítio, nos habituamos ao tempo da floresta. Dia longo e calmo, com a chuva a tarde escorrendo sobre nós, todos encantados... dia de surpresas.
Caminho e observo os cômodos espaçosos e vazios, as portas e janelas pesadas e grossas... e a casa parece gigante e carregada de uma atmosfera envelhecida. Vem-me a mente a imagem de um lugar que parou no tempo. Até que por um instante meus olhos fogem por entre as grades da janela e se voltam inebriados à imensidão da floresta, gigante e viva. E a casa, então, me parece tão pequena...

O relógio desse lugar tem outra sincronia. É tão mais lento... e pulsa com o tempo da mata. A floresta é a vida pulsando sem parar, vibrando a cada instante, uma composição repleta de diferentes sons e harmoniosa. A paisagem muda inteiramente com o amanhecer, o sol, a chuva... o som do brejo à noite, os passarinhos ao dia...

Com o passar das horas, fui percebendo... a hora da alimentação dos cavalos, as garças e castores aparecendo após a chuva, o sapo que surge sempre à porta da casa a noite, o som dos galos ao amanhecer. E quando eu penso na cidade e o seu silêncio, mesmo em meio a tanto movimento. Ah, e o céu que a cada noite assume uma cor... Sentei na beira da casa tentando compreender porque à noite a floresta é tão mais viva e cheia de sons.

Segundo dia. O trabalho começou logo cedo e o ritmo foi acelerando até a noite. Pouco tempo para reparar na rotina do sítio, que reservou surpresas mesmo a nós desatentos... uma imagem pequena e singela da Nossa Senhora do Desterro foi encontrada na capela. As lágrimas escorreram facilmente e, logo, chegou a Mariana, ainda no meio de todo o clima de encantamento... energia boa e a luz de Maria. Mariana que chegou e já se encantou com os ares da casa, com a imensidão da mata que se funde a nós nos detalhes... A chuva vem e tentamos enfrentá-la.

Terceiro dia e os últimos preparativos para a estreia. Acordamos muito cedo para o dia que será longo. O céu vem se abrindo inteiro. Aguardamos ansiosamente pelo sol. Sem tempo para pausas. O céu nos engana e a água cai ainda mais forte do que ontem. Manhã apreensiva, tarde rápida, de imprevistos e nervosismo. Esse lugar tem o domínio do tempo. E mais uma vez nos surpreendeu abrindo o céu horas antes da apresentação. O público chegou duas horas antes e foi preciso iniciar o espetáculo mais cedo. É estreia.

O espetáculo mudou o tempo da casa, trouxe uma atmosfera viva. A mata invadiu cada cena, trazendo pássaros, morcegos e dando eco à voz dos atores. A casa cheia, a paisagem de final de tarde, a troca de sensações e impressões, de repente, é tudo novo.

À noite, o calor trouxe os besouros e eram tantos! Ainda houve comemoração regada a vinho e diante de um céu imenso de estrelas. Na escuridão da noite o céu nunca foi tão iluminado.
Quarto dia. Dormimos bem e bastante. Acordamos com o café da Dona Rosa. Sol, sem garças, com a companhia de besouros, mamangavas e mosquitos. Deixamos a natureza ser e nos encantar com o seu tempo - e surpreender o nosso. Conhecemos seu Carrapicho, pai de Dona Rosa, homem vivido e de inúmeros causos que preencheu a nossa tarde com as suas histórias intermináveis.

Noite agitada, prosa na beira da casa, e desatamos a descobrir os ares da mata, saímos a pé com lanternas para chegar um pouco mais perto do lago.

Quinto dia. A família imensa da Dona Rosa encerrou nossa estadia do sítio com uma tarde de encantamentos. A roda de viola acendeu a casa. Organizamos e guardamos nossas coisas espalhadas pelo sítio, caminhamos pela casa e pela mata com ares de despedida e com jeito de quem não quer partir. No final da tarde, alguns amigos que assistiram e se emocionaram com o espetáculo nos outros dias retornaram com a família. A apresentação se encerrou, tivemos algumas conversas breves e terminamos por desmontar as nossas coisas, pausa para o último lanche e a última conversa na varanda. A partida dói. Mas aprendemos: é preciso desterrar-se. Com o coração cheio de luz e amor, partimos mais uma vez.


“Aprende com o tempo a transportar essa saudade da mente para o coração...”

Tatiana Plens

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