“[...] estou tentando captar a
quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora
tornou-se um novo instante-já que também não é mais. Cada coisa tem um instante
em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa. Esses instantes que decorrem no
ar que respiro [...]
Clarice Lispector – Água Viva
É tão difícil falar ou escrever
coisas que não podem ser ditas, quando até para si próprio sua vida e o mundo
que o circunda é um vasto mistério. Já
são 9 meses de instantes vividos entre pessoas e lugares com a família Cê, e só
nos instantes do dia 29 vivenciei, tendo consciência, com os 5 sentidos, ou
alguns outros que desconheço, uma parte da dimensão homérica em que estou
envolvido. Segundo Clarice, nada existe
de mais difícil do que entregar-se ao instante. Acredito piamente em cada
palavra escrita por essa mulher, pois foram exatamente 24 anos, 119 dias e 19
horas de instantes para que realmente pudesse apossar-me do primeiro É da minha
vida. Outro trecho escrito em seu livro que descreve exatamente como tem sido
essa sensação pra mim é: “estou entrando sorrateiramente em contanto com uma
realidade nova pra mim que ainda não tem pensamentos correspondentes e muito
menos ainda palavras que a signifique: é uma sensação atrás do pensamento”. Os
instantes que passo a VER, CHEIRAR, FALAR, OUVIR OU SABOREAR, absolutamente
fazem parte deste mundo em que sempre vivi, entretanto nunca o respirei. Estou
em contato com o âmago do meu eu interno buscando estradas que trafeguem e me
levem em direções, repetidas ou não, para que assim possa respira-las! Tenho
medo, coragem, segurança, insegurança, dúvida, certeza, ansiedade, calma,
silêncio, luz, escuridão... TENHO, TENHO E TENHO diante do meu corpo
interno/externo um profundo descampado mundo, onde, como um recém-nascido,
começo a dar as primeiras inspiradas e expiradas com o meu pulmão após o rompimento
do cordão umbilical que me liga completamente a minha mãe!
“Que a minha vida sempre deságue
em águas outras, dando-me a oportunidade de encontrar e reencontrar sempre
com os meus és das coisas”.
Obrigado Famíla CÊ por ter me
dado luz e estar comigo nesses primeiros instante-passos da minha vida!
Sempre grato, Lelis, Lelinho,
Lelus, Lelão... Andrade.
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