terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Instante - Deságue

“[...] estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa. Esses instantes que decorrem no ar que respiro [...]

Clarice Lispector – Água Viva

É tão difícil falar ou escrever coisas que não podem ser ditas, quando até para si próprio sua vida e o mundo que o circunda é um vasto mistério.  Já são 9 meses de instantes vividos entre pessoas e lugares com a família Cê, e só nos instantes do dia 29 vivenciei, tendo consciência, com os 5 sentidos, ou alguns outros que desconheço, uma parte da dimensão homérica em que estou envolvido.  Segundo Clarice, nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante. Acredito piamente em cada palavra escrita por essa mulher, pois foram exatamente 24 anos, 119 dias e 19 horas de instantes para que realmente pudesse apossar-me do primeiro É da minha vida. Outro trecho escrito em seu livro que descreve exatamente como tem sido essa sensação pra mim é: “estou entrando sorrateiramente em contanto com uma realidade nova pra mim que ainda não tem pensamentos correspondentes e muito menos ainda palavras que a signifique: é uma sensação atrás do pensamento”. Os instantes que passo a VER, CHEIRAR, FALAR, OUVIR OU SABOREAR, absolutamente fazem parte deste mundo em que sempre vivi, entretanto nunca o respirei. Estou em contato com o âmago do meu eu interno buscando estradas que trafeguem e me levem em direções, repetidas ou não, para que assim possa respira-las! Tenho medo, coragem, segurança, insegurança, dúvida, certeza, ansiedade, calma, silêncio, luz, escuridão... TENHO, TENHO E TENHO diante do meu corpo interno/externo um profundo descampado mundo, onde, como um recém-nascido, começo a dar as primeiras inspiradas e expiradas com o meu pulmão após o rompimento do cordão umbilical que me liga completamente a minha mãe!

“Que a minha vida sempre deságue em águas outras, dando-me a oportunidade de encontrar e reencontrar sempre com os meus és das coisas”.

Obrigado Famíla CÊ por ter me dado luz e estar comigo nesses primeiros instante-passos da minha vida!


Sempre grato, Lelis, Lelinho, Lelus, Lelão... Andrade.

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