quarta-feira, 27 de agosto de 2014

cunhãntã, derivas e amanhãs...



Hoje eu me reviro viro reviro
Hoje é dia de me revirar
Do avesso
Do meu avesso
Já não consigo desvirar
Respiro e pinto coisas outras pra me revirar
Pra me deitar ao sol
Pra me contar
Pra costurar minha tarde
Para me acostumar
E me revirar
Para me acostumar
E me revirar
Eu me conto segredos no meu avesso
Eu me conto pra mim eu me conto eu conto eu conto
Eu conto o que não conta canto todo canto do meu peito tem o perfume de uma vontade de amanhã morno ao sol de um fim de tarde
Tem vontade de sono de descanso de correr ao fim da rua ensurdecida pelo riso de uma criança
Sorriso alcança a boca arranha os dentes atrita os ossos
Ossos do meu ofício que é ofício de criar
De revirar
De amar cada instante com esse fervor que assola o meu peito nos dias em que me reviro
Eu já não consigo compor palavras por palavras que são máquinas que só querem escrever sentidos sem pensar nas palavras todas elas tão bonitas potentes para o nada
Eu vomito vomito vomito palavras mas meu vômito é uma flor
Florzinha que brota tímida de inquietude
Peito aberto ao horizonte
Respiro que revira e revirar que é respiro
Meu caminho já é meu
meu caminho é meu
meu caminho.
meu caminho me pertence
me pertence o meu caminho
que não pertence a ninguém
nem a mim
porque é caminho
caminha
esse caminhar
que não tem fim
início
vida fluída
eu tenho essa liquidez
de cada dia acordar líquida e vestir a roupa que me amarra no dia na cadeira na frente do computador desfazendo pétalas fechando o riso esparramado pela minha voz eu não sou eu não sou eu não sou eu. não. sou. eu.
eu amo tanto tanto tanto a vida que já não poderia amar mais amarras amarras amarras amarás? Do futuro eu também não sei porque ele é costura do agora e no agora eu flutuo como alguém que tateia o solo que está descobrindo no mesmo instante em que pisa
cheirinho de terra molhada
final de tarde na beira do lago
fecho os olhos e já foi o amor...
sou líquida que liquida o agora o amor
eu sinto culpa
sinto.
só.
só de completude
que se incompleta
no instante
que é
E já é
E ainda é
Esgoto e gosto de esgotar o gosto por qualquer coisa que se desfaz...
Desfalecer...
No meu peito a agonia do agora da vida de cunhã parir os brotinhos de amanhã
Eu quero caçar o amor
a paz
a felicidade
o final de tarde
o caos do meu pensamento
e soltar...
captura e soltura...
para que cada coisa seja
no instante que é.

eu
sono
sonho
sopro
de
vida
e
amanhã.

Tatiana Plens

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