quarta-feira, 10 de março de 2010

Memórias. Um casarão. Canções populares.

Você já viu essa cena?

Se você aprecia com assiduidade a contemporânea produção teatral, sim! Você já viu essa cena!

Então, por que ver "Desterro"?


Desterro é um município do estado da Paraíba, mas é também sinônimo de exílio (de "tirar da terra"). Numa expressão mais livre, dá pra pensar em um desenterrar lembranças: do amor de infância à mãe querida, que está presa à terra e, essa talvez seja a imagem-metáfora mais bela em cena, protagonizada pela atuação doce de Giuliana Abona.

O texto poético e rico em imagens é de Janaína Silva, a Jana, e em um tempo em que a "onda" é eliminar o texto, fugir do drama, dá prazer escutar palavras tão bem escritas. E para desafiar uma dramaturgia tão forte, Fernanda Brito surge com sua interpretação segura. Brinca com as palavras e entonações. Deixa de ser a garota do tambor.

A história se desenvolve a partir das lembranças do personagem de Hércules Soares, responsável por uma passagem de tempo nada clichê. Já Mariana Alves entra em cena forçando o "caipirês", mas, aos poucos, vai cativando a plateia.

A peça é permeada por intervenções do coro, formado pelas atrizes já citadas e por Andressa Machado, que também é responsável pela venda de ingressos. Estamos em um Coletivo!

Particularmente, não sinto necessidade do coro. Não vejo nele uma característica social, ou de reflexão de um personagem, que justifique sua utilização. A personagem de Eliane Ribeiro dá conta desse aspecto. Ela fala por todos. Por todos nós!

A direção, aliada e integrada às propostas de encenação do Coletivo Cê, é a grande surpresa. Júlio Mello amarra situações e imagens como poucos. Cria ambientes que dialogam com o espaço (um casarão antigo da CPFL) e com uma iluminação acertada. A sutileza toma conta do espetáculo, como em uma passagem em que a luz vem de fora e entra por uma fresta de uma porta.

O espetáculo além de tocante, sensível, impressiona pela riqueza do texto, pelas interpretações apaixonadas, pela utilização perfeita do espaço, pelas escolhas e, principalmente, pela estética. E é por ela que você deve ver "Desterro".

Patricia

Serviço:

"Desterro", de 20/02 a 11/04

Sábados às 20h e Domingos às 19h

Local: Casarão da CPFL (Rua Dr. Ubaldino do Amaral, 202, Centro, Sorocaba-SP)

Info: (15) 88149882 e (15) 91121644

*foto por Tatiana Plens

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