quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Tesouros de terça-feira de manhã
Por Fernanda Brito
Vó Senhorinha é uma senhora forte de 87 anos que já passou por muita coisa na vida. Como toda vó já passou muita coisa na vida não há nada de surpreendente nesse fato. A vó já aguentou derrames, infartes, câncer, dores, perda dos dentes, do grande amor, de irmãos, do marido, a vó parece frágil mas é forte como um touro.
Ninguém marca nada com ela e deixa de cumprir. Não é coisa de velha, nem é por ser cricri, é que quando você marca com alguém tem que estar lá.
Dá pra ver a vó envelhecer, sem grandes doçuras de contos e textos bonitos. A gente envelhece, cria rugas, dores novas, vai ficando frágil e miúdo.
Minha vó, como toda vó, é um poço de inspiração. No meu caso, apaixonada pelos tempos idos, minha vó é quase uma epifania caminhante. Verter água é ouvir ela falar as coisas mais sinceras e singelas que sua educação campesina permite. Chamar a empregada de APICÓRNA e concluir que é por causa desse fato que ela faz tudo exatamente o contrário do que minha vó pede (APICÓRNA também é conhecida como CAPRICORNIANA), me chamar de solteirona porque:"Quem casou no mesmo dia da sua mãe já é avó!" e outras pequenas coisas que constituem essa senhora que eu respeito e amo demais é um privilégio. Estão aí os tesouros. Encontrar a singeleza de uma conversa sobre o tempo com ela. Me sentir de alma afagada de vê-la no trato com suas coisas. Observar o juntamento de cacarecos que é sua casa e admirá-la por manter esse hibridismo de tempos dentro daquelas paredes, forradas de imagens de santo e de um apego no Deus. A grandeza não está no conhecimento nem nos livros. Está no meu pequeno tesouro de terça-feira de manhã. No tesouro dessa visita. Vertendo água durante uma conversa por ver materializada minha ancestralidade e toda a beleza da minha crença na memória. No tesouro de reconhecer nossa efemeridade. Todo mundo devia vezenquando encontrar sua vó, fofa, ou uma vó fofa mesmo que emprestada e entender que a gente é pequeno, efêmero, frágil, quase nada. Essa mulher forte, mãe, toda sangue e coração (mesmo sem se reconhecer sangue e coração) é uma arca de tesouros e de sabedoria.
"E a gente vai até onde Deus permitir né fia? Só por ele que a gente segue!"
(As rosas são da roseira dela naquele quintal que eu brinquei tanto quando grãozinha)
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
O Historiador paralisa o tempo presente.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Manda-me notícias...
por Fernanda Brito
O chamado veio, num dia triste e seco.
Sobre dias de luto
Preza dentro de incertezas: de manhã um céu azul,à tarde já tomando forma trocando a cor.Coração na mão ,boca, e então ele volta ao seu lugar.As batidas que há dias descompassadas agora em um ritmo mais acelerado.Já havia me esquecido o gosto da lágrima,hoje com o terceiro dia de choro coloquei a língua pra fora e senti.
De hora em hora lembro-me daquele sorriso largo,a luz bonita e rara.Não me deparo há tempos com gente assim , convivo em um mundo de sorrisos falsos,pessoas de almas escuras.Ela não,sempre cercada de sonhos, um pouco Maria subindo no pé de manga,brincando com tatu bola, menina mulher.
E agora já não me cabe pensamentos, lembranças, somente a impotência diante do movimento das pedras.Só espero; pode-se chamar de fé, os mais religiosos às vezes chamam a esperança assim.Agora é noite, não posso prever o céu.
quinta feira ,11 de agosto de 2011.
Andressa Machado.
domingo, 18 de setembro de 2011
Oração de Santo Agostinho
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria fora de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?
Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas,
não chores mais.
setembro.
Tatiana Plens
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Dia do Ator
Este dia do Ator gostaria de oferecer a Atriz mais linda que pude conhecer e que prematuramente nos deixou: Mariana Alves.
Menina de sorriso largo, que com ele desperigava qualquer malícia, qualquer seriedade. Sabia como ninguém se divertir em cena, jogar e com isso fazernos derreter na platéia com tanto brilho.
Ontem você fez uma viagem... Talvez a mais longa. Dizem que quando morremos somos recebidos no céu por aqueles que nos amam e tbm aqueles aos quais nos identificamos. Acho que sua recepção deve ter sido comtemplada desde Elis Regina até Giulietta Masina que assim como você, sabiam nos emocionar como ninguém.
Minha menina. Minha amiga. Minha irmã.
Todos os meus dias, em todos os papéis que tiver a honra de desempenhar serão dedicados à você.
Obrigado por ter existido e transformado a minha vida.
Sentirei saudades até o dia que poderei ser recebido no céu por você, e reencontrarei este lindo sorriso inesquecível.
Te Amarei eternamente.
Merda!
Evoé!
Seu irmão Julinho.
sábado, 13 de agosto de 2011
O que o Vento não levou
quarta-feira, 27 de julho de 2011
"Manda-me notícias ou mesmo uma flor, que sejam carícias e provas de amor"**
terça-feira, 12 de julho de 2011
Ou mudamos ou morremos
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Rua Scuvero, 287
Seu Lourenço e Dona Laudeci, nomes perfeitamente bonitos para um texto e extremamente vivos na nossa mente, pela presença, pelo auxílio e por todo o carinho que nos deixou de coração quente.
Na cidade cinza
Manoel de Barros
Tivemos o privilégio de ocupar como espaço cênico a casa da Dona Laudeci, primeira vivência do coletivo numa casa habitada por três famílias e um cagado.
A casa dessa vez abrigava calor humano, tem cheiro, tem vida.
A Desterro aconteceu diferente, aconteceu vivo e pulsante, pois tratamos de família, casa, cheiro, gosto e amor.
Ah que família abençoada, dentro dessas casa não há de faltar nada.
Hércules Soares
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Ação coletiva
Fernanda Ikedo
Agência BOM DIA
Uma grande conquista para a cena cultural de Sorocaba, Votorantim e outras cidades da região é a criação de coletivos independentes, que se juntaram a uma grande rede nacional, chamada Circuito Fora do Eixo.
Entre os participantes dessa rede está o Coletivo Cê, que reúne artistas de Sorocaba, Votorantim e São Paulo e que tem como carro-chefe de produção a peça “Desterro”. Ela será apresentada neste sábado (25), durante a segunda edição do Festival Fora do Eixo, na Capital.
O ator Hércules Soares, 22 anos, explica a importância da oportunidade de participar desse festival. “O Coletivo Cê tem quatro anos e há um ano integra o Fora do Eixo. Para nós, este festival é fundamental para a troca de contatos com artistas e grupos de todo o país”, destaca.
Entre as possibilidades proporcionadas pelo Fora do Eixo, está a maior facilidade para a realização de turnês por várias cidades.
A coordenadora nacional do Palco do Fora do Eixo, Cláudia Schulz, 28, que mora em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, explica que ocorre uma aproximação entre os artistas de grupos cênicos, danças e outras linguagens corporais. “A proposta é que a gente consiga fomentar uma cena mais dinâmica para divulgar as peças que são produzidas nos circuitos independentes”, diz.
Verba/ Uma das principais reclamações dos artistas para se fomentar a arte no país é a questão financeira. “Para a vinda do coletivo a São Paulo contamos com parcerias, como o Sindicato dos Metalúrgicos que contribuíram com o porte”, destaca Hércules.
Por isso, a rede criada pelo Fora do Eixo, com mais de cem coletivos, contribui para levar uma peça produzida no Rio Grande do Sul a São Paulo ou Sorocaba. “Os coletivos que integram a rede ajudam no que podem, às vezes com alojamento, com parcerias, indo atrás de patrocínios”, conta Cláudia.
Peça/ O espetáculo “Desterro” envolve dança e teatro, abordando o tema do patrimônio imaterial, a memória e recebeu patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, pela qual foi feita uma temporada de quatro meses em Sorocaba, e do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo. Com esse patrocínio, os artistas apresentaram “Desterro” em São Roque, Itu e Iperó.
Acesse
O Coletivo Cê mantem informações sobre suas pesquisas no blog: coletivoce.blogspot.com.
União
O Coletivo Rasgada Coletiva, de Sorocaba, também está participando do Festival Fora do Eixo.
Intercâmbio
“É uma moeda solidária para fomentar a cena cultural”, explica Cláudia Schulz, coordenadora do projeto “Palco”, braço do festival , a respeito do suporte dado aos artistas pela rede do circuito Fora do Eixo (formado pelos coletivos culturais ).
Atenção
O Coletivo Cê apresenta-se neste sábado (25), às 18h e 21h, na rua Scuvero, 282, Aclimação
Fonte: Site do Jornal Bom Dia Sorocaba
terça-feira, 21 de junho de 2011
Coletivo Cê apresenta o espetáculo Desterro no Festival Fora do Eixo
O Coletivo Cê terminou a temporada de circulação do espetáculo Desterro por meio do PROAC (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo) no último mês, pelo qual se apresentou e produziu oficinas teatrais nas cidades de São Roque, Itu e Iperó.
O projeto Desterro - Investigação e Preservação da Memória teve início em Agosto de 2009 e é parte da pesquisa de linguagem e experimentação cênica do Coletivo Cê. O “processo de desterro” se deu a partir da investigação da memória, do compartilhamento das histórias e recordações pessoais dos atores/criadores integrantes do projeto. A memória é aquela onde identificamos nossa origem, as histórias dos avós, as imagens de outro tempo, as músicas e brincadeiras da infância; os sabores, cheiros e sensações do imaginário do passado de cada um de nós, das experiências que carregamos ao longo da vida. Buscando abarcar as criações partindo da idéia de que somos feitos das memórias que carregamos.
O projeto prevê ainda estabelecer diálogo com espaços de patrimônio histórico e propõe sua ressignificação através da experiência teatral, buscando ampliar a reflexão a cerca de patrimônio imaterial e material e a importância de preservarmos nossa identidade cultural.
O espetáculo Desterro narra a trajetória poética de um jovem que está saindo de casa e através de um mergulho em imagens, sensações, músicas e fatos da sua vida - passado, presente e futuro que se fundem, como num mosaico de devaneios – parte para um reconhecimento de si mesmo, do seu lugar de origem, das suas urgências. Um passeio pelo tempo através da memória, em que o espaço, o texto, os atores e os espectadores co-criam a história que pode também ser a de todos nós.
As apresentações ocorrerão no dia 25 de junho às 18h e às 21h na Rua Scuvero, 282, Aclimação, São Paulo/SP. A lotação máxima por sessão é de 20 pessoas e é preciso retirar o ingresso uma hora antes do espetáculo na Casa Fora do Eixo São Paulo. A participação do Coletivo Cê no festival tem apoio do Coletivo Fora do Eixo e do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Olha, meu amor, eu estou voltando...
Homem simples, pequeno, chapéu na cabeça, camisa xadrez e um lenço vistoso preso com a figura de um boi. Era um dia importante. Nos abraçou com carinho e já começou a tirar as histórias do bolso - o quanto é mentira ou verdade não sabemos, mas pouco importa. Nosso eterno contador de histórias nos encheu de encantamentos. Só essa imagem já me arrancava lágrimas dos olhos.
Pisar novamente no Sítio Santo Antônio em São Roque foi como tocar a pele da memória recente, mas já gasta. Foi pra ter certeza de que o tempo conseguia carregar aquele carinho nos braços por muito tempo. Foi também pra saber que a saudade e o vazio que nos atingiu depois de deixar aquele sítio no início do ano não foi sentido somente por nós. Bonito ouvir como as canções estavam de certa forma fincadas naquele lugar e como nós conseguimos modificar e reavivar aquela paisagem para quem convive com ela todos os dias. Só ouvir isso já nos fez sentir que estamos no caminho certo. Tão belo o abraço e a felicidade da Rosa em nos encontrar. Tão bonito nos depararmos com os detalhes que ela constrói e perceber como tudo que ela faz é cheio de cuidado e amor. Tão belo o presente que eles nos deram e nem sabem. Dessa vez foi a vez deles de nos carregar pela infância, pelas festas vistosas que há tempos não víamos, de nos encher o coração de luz em uma noite tão fria.
"O mundo era um pedaço complicado para o menino que viera da roça. Não vi nenhuma coisa mais bonita na cidade do que um passarinho. Vi que tudo o que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel. Só o que não vira sucata é ave, árvore, rã, pedra. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial." (Manoel de Barros)
Tatiana Plens
segunda-feira, 9 de maio de 2011
De tempo
Eu nunca entendi muito bem o porque, mas sempre fui apaixonada por um tempo que não vivi. Saudade da simplicidade de coisas sem telas coloridas ou comandos de voz. De quando se podia ouvir o rádio falando nas casas, não a TV. De longos vestidos bordados, e não ser de bom tom uma moça caminhar sozinha na rua. De quando criança, brincar com bonecas de pano, panelinhas de lata.
Quando o processo de Desterro se iniciou há quase dois anos atrás senti que tinha a oportunidade perfeita para mergulhar nesse tempo que foi. E de fato aproveitei da chance pra buscar por esse universo, já tão íntimo, mesmo sem a compreensão do porque. A sede e a admiração só cresceram.
Tivemos belíssimas experiências em Sorocaba na nossa temporada de estréia, e depois pelas viagens pelo PROAC. São Roque foi mágico. Pelo contato com a terra, com o lago, com o céu sardentinho de estrelas, com a casa do século XVI, que me faz muito honrada pela oportunidade. Nossa Senhora do Desterro na capela, Mário de Andrade com sua busca pelas capelinhas toscas, e o respeito por aquele lugar que já foi tão importante pro poeta e hoje abriga gente humilde e muito, muito boa, de coração enorme.
Em Itu a experiência de trabalhar em uma arquitetura diferente de uma casa nos trouxe novo vigor e ensinamentos, lidando com o onírico, com o que está nos escuros e cantinhos da gente.
Mas hoje.
Hoje em Iperó, na Fazenda Nacional de Ipanema, no segundo dia em que estamos alojados na casa que nos serve de abrigo e cenário para o nosso desterro, meu coração bate de um jeito diferente.
Enquanto eu pesquisava sonoridades e imagens do passado, meu coração batia com uma voracidade de busca e uma dor de saudade, essa saudade de tempos que não vivi. Meu coração hoje bate desse jeito. Estou transportada a esse outro tempo e me sinto completa. Me sinto assustadoramente completa. A dor de saudade marejando os olhos sempre. E descobrindo o gostinho efêmero de mesmo por um segundo silencioso me transportar pra essa época, quando observo a luz do sol refletindo o desenho do portão de madeira no chão, ou vendo o pé de manga da Dona Noemi balançando preguiçoso e derrubando folhas na rua de terra, ladeada de casinhas antigas.
Estou muito grata, transportada.
Eu queria conseguir descrever a COR dos tijolos da calçada, ou descobrir quanto tempo tem o limo que cresce sobre eles .
Queria conseguir tirar da cabeça e explicar qual é a sensação que tenho quando, sentada aqui na calçada, olho pras casas até a outra esquina.
Queria ter pra sempre esse silêncio entrecortado pelos passarinhos, ou o som do rio correndo lá embaixo.
Queria entender porque meus olhos vertem tanta água como agora.
Queria entender de sentimentos ou de tempo pra entender porque ESSE me dá tanta saudade.
por Fernanda Brito
foto por Tatiana Plens- Desterro em Iperó.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Video "Desterro"
Imagens do espetáculo apresentado na cidade de Itu com a realização do Coletivo Cê e PROAC- Edital de Circulação(Governo do Estado de São Paulo).
Imagens: Marina Hungria
Edição de Video: Henrique Ravelli
Música: Heraldo Marins e Henrique Ravelli.
Coletivo Cê apresenta o espetáculo Desterro na Fazenda Ipanema em Iperó
O Coletivo Cê realiza apresentações do espetáculo Desterro na Fazenda Ipanema em Iperó no próximo final de semana, dias 07 e 08 de maio. As apresentações serão realizadas através do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo (PROAC) e em parceria com a Secretaria de Cultura de Votorantim e a Floresta Nacional do Ipanema (FLONA). O coletivo cumpriu temporada da peça teatral em Sorocaba por meio da LINC (Lei de Incentivo à Cultura) e foi contemplado no final do ano passado pelo PROAC, que prevê a circulação e a difusão de espetáculos teatrais pelo interior do estado, além da realização de uma oficina cultural. Pelo projeto, o coletivo já realizou apresentações em São Roque, Itu e se encerra em Iperó.
O projeto Desterro - Investigação e Preservação da Memória teve início em Agosto de 2009 e é parte da pesquisa de linguagem e experimentação cênica do Coletivo Cê. O “processo de desterro” se deu a partir da investigação da memória, do compartilhamento das histórias e recordações pessoais dos atores/criadores integrantes do projeto. A memória é aquela onde identificamos nossa origem, as histórias dos avós, as imagens de outro tempo, as músicas e brincadeiras da infância; os sabores, cheiros e sensações do imaginário do passado de cada um de nós, das experiências que carregamos ao longo da vida. Buscando abarcar as criações partindo da idéia de que somos feitos das memórias que carregamos.
O projeto prevê ainda estabelecer diálogo com espaços de patrimônio histórico e propõe sua ressignificação através da experiência teatral, buscando ampliar a reflexão a cerca de patrimônio imaterial e material e a importância de preservarmos nossa identidade cultural.
O espetáculo Desterro narra a trajetória poética de um jovem que está saindo de casa e através de um mergulho em imagens, sensações, músicas e fatos da sua vida - passado, presente e futuro que se fundem, como num mosaico de devaneios – parte para um reconhecimento de si mesmo, do seu lugar de origem, das suas urgências. Um passeio pelo tempo através da memória, em que o espaço, o texto, os atores e os espectadores co-criam a história que pode também ser a de todos nós.
As apresentações ocorrerão nos dias 07 e 08 de maio às 17h na Fazenda Ipanema, localizada a 30 km do centro de Iperó, com acesso pela saída 99B da Rodovia Castelo Branco ou pelo km 112 da Rodovia Raposo Tavares. A entrada é gratuita e a lotação máxima é de 40 pessoas. A Secretaria de Cultura de Votorantim disponibilizará transporte gratuito para o espetáculo no sábado. O ônibus sairá do Teatro Municipal de Votorantim às 16h e é necessária a inscrição antecipada. Maiores informações pelo telefone (15) 3243-1191.
Coletivo Cê participa de seminário de Patrimônio Imaterial
O espetáculo Desterro faz parte também da programação do 1º Seminário de Patrimônio Imaterial de Votorantim organizado pela Secretaria de Cultura de Votorantim, com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Logo após os debates no evento, os participantes terão a oportunidade de assistir ao espetáculo, construído a partir de pesquisas sobre oralidade e memória.
Programação:
9h - Coffe Break
10h – Abertura: “Patrimônio Imaterial em Perspectiva” com Simone Toji, do Departamento do Patrimônio Imaterial do IPHAN
12h30 - Almoço
13h30 – Mesa “Oralidade e Espacialidade na preservação do patrimônio imaterial”
Com Clayton Leme, secretário de cultura de Votorantim, e Débora Bergamini, da Secretaria de Cultura de Votorantim
15h30 - Coffe
16h00 - Saída para a Floresta Nacional de Ipanema para espetáculo teatral “Desterro”
18h00 - Retorno a Votorantim
sábado, 30 de abril de 2011
Música Brilhantina- Renata Rosa
Temos trabalho pela frente. Evoé
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Viver é um desterrar-se!
segunda-feira, 28 de março de 2011
Dos caminhos.
Desterro esta caminhando, e a estrada parece estar botando sentido no nosso processo. A cada lugar ocupado percebemos a importância de estar aberto ao clima, a textura, o cheiro e as pessoas do lugar, é o trabalho de dialogar com a singularidade da cidade em que passamos.
Em Itu tivemos a Fábrica São Luís, um edifício construído no ano de 1888, lá tinhamos uma concepção de espaço muito diferente das nossas experências, a estrutura de uma fábrica de tecido, a escuridão da noite e os barulhos do lugar. Mas tudo isso foi benevolente de uma certa maneira, tinhamos então um outro espetáculo, desconhecido até por nós, nesses tres dias tivemos um trabalho intenso de apropriação da Desterro, ideias totalmente inusitadas.
Desterro rasgou o ceú de Itu com o vento bom de mudança.
Por Hércules Soares
Foto por Tatiana Plens
domingo, 20 de março de 2011
Coletivo Cê realiza apresentações do espetáculo Desterro em Itu
O projeto Desterro - Investigação e Preservação da Memória teve início em Agosto de 2009 e é parte da pesquisa de linguagem e experimentação cênica do Coletivo Cê. O “processo de desterro” se deu a partir da investigação da memória, do compartilhamento das histórias e recordações pessoais dos atores/criadores integrantes do projeto. A memória é aquela onde identificamos nossa origem, as histórias dos avós, as imagens de outro tempo, as músicas e brincadeiras da infância; os sabores, cheiros e sensações do imaginário do passado de cada um de nós, das experiências que carregamos ao longo da vida. Buscando abarcar as criações partindo da idéia de que somos feitos das memórias que carregamos.
O projeto prevê ainda estabelecer diálogo com espaços de patrimônio histórico e propõe sua ressignificação através da experiência teatral, buscando ampliar a reflexão a cerca de patrimônio imaterial e material e a importância de preservarmos nossa identidade cultural.
O espetáculo Desterro narra a trajetória poética de um jovem que está saindo de casa e através de um mergulho em imagens, sensações, músicas e fatos da sua vida - passado, presente e futuro que se fundem, como num mosaico de devaneios – parte para um reconhecimento de si mesmo, do seu lugar de origem, das suas urgências. Um passeio pelo tempo através da memória, em que o espaço, o texto, os atores e os espectadores co-criam a história que pode também ser a de todos nós.
As apresentações ocorrerão nos dias 25, 26 e 27 de março às 20h no Espaço Fábrica São Luiz, Rua Paula Souza, 492, Itu. Para adquirir o ingresso basta doar um quilo de alimento não perecível na Secretaria de Cultura ou no local até uma hora antes do inicio do espetáculo. A lotação máxima é de 50 pessoas. Maiores informações pelo telefone (11) 4023-0363 ou (11) 8178-5323 ou pelo email coletivoce.imprensa@gmail.com.
OFICINA CULTURAL
A oficina cultural será realizada no dia 26 das 15h às 17h30 no Espaço Fábrica São Luiz. Conduzida pelos integrantes do Coletivo Cê, propõe um contato com o modo de trabalho do coletivo e o processo de criação do espetáculo Desterro. O público alvo são estudantes de teatro, integrantes de grupos de teatro da cidade e interessados em arte em geral. A idade mínima para participar é 15 anos. A participação é gratuita e não é necessário se inscrever antecipadamente.
Ficha Técnica:
Direção: Júlio Mello
Dramaturgia: Janaína Silva
Preparação Corporal: Melany Kern
Contra-Regra: Lucas Maia
Fotografia: Tatiana Plens
Elenco: Hércules Soares, Eliane Ribeiro, Mariana Alves, Giuliana Bona, Fernanda Brito, Andressa Machado
Foto por Marina Hungria
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Desterro – Uma ponte para a lembrança
Minutos depois já estávamos munidos com todo nosso armamento, uma vassoura e um saco de lixo para cada um. Lembro de como era boa a sensação de limpar tudo, quando a gente é criança não chega nem a cansar, nem se importa com o sol forte, lembro da cara de satisfação de cada um, gargalhávamos, brincávamos durante a limpeza, um espírito novo nos fazia querer ajudar o amigo o tempo todo, segurando o saco de lixo, ajudando a achar as mínimas sujeiras, tudo isso com aquele prazer e alegria que são característicos de uma doce criança no auge de seus 7, 8 anos.
Limpamos tudo, tudo mesmo, enchemos dois sacos em menos de 2 horas, estávamos comemorando e decidimos que iríamos limpar toda a cidade de Sorocaba um dia, se nossos pais nos deixassem sair das redondezas da Rua Alameda do Bosque é claro.
Por Gil Venturelli
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Nossos dias iluminados no Sítio Santo Antônio
No primeiro dia, a descoberta. Conhecemos os ares do sítio, nos habituamos ao tempo da floresta. Dia longo e calmo, com a chuva a tarde escorrendo sobre nós, todos encantados... dia de surpresas.
O relógio desse lugar tem outra sincronia. É tão mais lento... e pulsa com o tempo da mata. A floresta é a vida pulsando sem parar, vibrando a cada instante, uma composição repleta de diferentes sons e harmoniosa. A paisagem muda inteiramente com o amanhecer, o sol, a chuva... o som do brejo à noite, os passarinhos ao dia...
Com o passar das horas, fui percebendo... a hora da alimentação dos cavalos, as garças e castores aparecendo após a chuva, o sapo que surge sempre à porta da casa a noite, o som dos galos ao amanhecer. E quando eu penso na cidade e o seu silêncio, mesmo em meio a tanto movimento. Ah, e o céu que a cada noite assume uma cor... Sentei na beira da casa tentando compreender porque à noite a floresta é tão mais viva e cheia de sons.
Segundo dia. O trabalho começou logo cedo e o ritmo foi acelerando até a noite. Pouco tempo para reparar na rotina do sítio, que reservou surpresas mesmo a nós desatentos... uma imagem pequena e singela da Nossa Senhora do Desterro foi encontrada na capela. As lágrimas escorreram facilmente e, logo, chegou a Mariana, ainda no meio de todo o clima de encantamento... energia boa e a luz de Maria. Mariana que chegou e já se encantou com os ares da casa, com a imensidão da mata que se funde a nós nos detalhes... A chuva vem e tentamos enfrentá-la.
Terceiro dia e os últimos preparativos para a estreia. Acordamos muito cedo para o dia que será longo. O céu vem se abrindo inteiro. Aguardamos ansiosamente pelo sol. Sem tempo para pausas. O céu nos engana e a água cai ainda mais forte do que ontem. Manhã apreensiva, tarde rápida, de imprevistos e nervosismo. Esse lugar tem o domínio do tempo. E mais uma vez nos surpreendeu abrindo o céu horas antes da apresentação. O público chegou duas horas antes e foi preciso iniciar o espetáculo mais cedo. É estreia.
O espetáculo mudou o tempo da casa, trouxe uma atmosfera viva. A mata invadiu cada cena, trazendo pássaros, morcegos e dando eco à voz dos atores. A casa cheia, a paisagem de final de tarde, a troca de sensações e impressões, de repente, é tudo novo.
À noite, o calor trouxe os besouros e eram tantos! Ainda houve comemoração regada a vinho e diante de um céu imenso de estrelas. Na escuridão da noite o céu nunca foi tão iluminado.
Quarto dia. Dormimos bem e bastante. Acordamos com o café da Dona Rosa. Sol, sem garças, com a companhia de besouros, mamangavas e mosquitos. Deixamos a natureza ser e nos encantar com o seu tempo - e surpreender o nosso. Conhecemos seu Carrapicho, pai de Dona Rosa, homem vivido e de inúmeros causos que preencheu a nossa tarde com as suas histórias intermináveis.
Noite agitada, prosa na beira da casa, e desatamos a descobrir os ares da mata, saímos a pé com lanternas para chegar um pouco mais perto do lago.
Quinto dia. A família imensa da Dona Rosa encerrou nossa estadia do sítio com uma tarde de encantamentos. A roda de viola acendeu a casa. Organizamos e guardamos nossas coisas espalhadas pelo sítio, caminhamos pela casa e pela mata com ares de despedida e com jeito de quem não quer partir. No final da tarde, alguns amigos que assistiram e se emocionaram com o espetáculo nos outros dias retornaram com a família. A apresentação se encerrou, tivemos algumas conversas breves e terminamos por desmontar as nossas coisas, pausa para o último lanche e a última conversa na varanda. A partida dói. Mas aprendemos: é preciso desterrar-se. Com o coração cheio de luz e amor, partimos mais uma vez.
“Aprende com o tempo a transportar essa saudade da mente para o coração...”
Tatiana Plens
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Mas o quê um teatro sagrado poderia ser?
“O teatro é o último fórum onde o idealismo ainda é uma questão aberta.”
(Peter Brook)
Tomei o Coletivo Cê na sexta (04) com destino ao Sítio Santo Antonio e por algum motivo ainda não consegui sair de lá. Na tentativa de explicar o motivo, posso divagar sobre alguns...
Vi um teatro de cores e movimentos, de tecidos finos, de sombras, de palavras poéticas, de silêncios e sussurros, de vôos, de fantasias, de brilhante leveza e de todas as formas de mistérios e surpresas.
Toda essa descrição está apoiada em Peter Brook, falando das glórias do teatro do final da década de 40, “de uma Europa ferida que parecia ter um objetivo comum: recuperar a memória de uma graça perdida.”
Vale a pena destacar trechos do livro do diretor inglês, “O teatro e seu espaço” para traçar paralelos com o trabalho do Coletivo Cê:
“Do incêndio da Ópera de Hamburgo só restou o palco. Mas a platéia se reuniu lá e, num tablado, tendo como fundo o cenário precário, apoiado sobre uma parede nua, alguns cantores se movimentavam, subindo e descendo para interpretar “O Barbeiro de Sevilha”; isto porque, nada podia impedi-los de agir assim.Cinquenta pessoas se amontoavam num sótão muito pequeno, enquanto que nos poucos centímetros que restavam, um punhado de ótimos atores, resolutamente, continuava a praticar sua arte.”
Longe de mim qualquer tipo de comparação com a horrível situação histórica, mas sim, com o teatro sagrado, definido por Brook como o teatro do invisível tornado visível, e na minha visão “Desterro” traz em seu bojo a ressacralização do teatro.
Um teatro servido por um cortejo de atores e diretor devotos, criado a partir de suas próprias vísceras e promovendo uma sucessão de violentas imagens cênicas, que explodem matéria humana.
Brook fala também de termos perdido todo o significado de ritual e cerimônia, mas que as palavras permanecem conosco e que velhos impulsos continuam a agitar-se em nós.
Fomos testemunhas da coragem dos atores na exposição de suas reservas emocionais, do pensamento claro na dramaturgia de Janaina Silva e de toda uma idéia invisível corretamente mostrada por Júlio Mello, que proporcionaram ao público uma experiência que alimentou, acendeu espíritos.
A questão básica: por que afinal o teatro? O Coletivo aponta uma resposta: por objetivos nobres e ser nobre só significa ser decente.
É certo que aqui em São Roque, uma cidade com mais de 350 anos, nós, artistas da região, nos ressentimos de não termos um edifício teatral daqueles de arquitetura austera, cornucópias, cortinas vermelhas e de certa feiúra na decoração, justamente para depois explodir tal espaço e ocupar as ruas, as praças, o Sítio Santo Antonio.
Não podemos fazê-lo ainda, porque temos medo do sol e da chuva atrapalhar nossos ensaios. Há também a possibilidade de sermos “meninos lesmas”, mas há algo mais a refletir...
“No teatro, há séculos a tendência tem sido de colocar o ator numa distância remota, numa plataforma, emoldurado, decorado, iluminado, pintado, com sapatos altos – para convencer o ignorante de que ele é sagrado, de que sua arte é sacra. Era veneração, ou haveria por trás disto o medo de que algo seria exposto se a luz fosse forte demais ou a distância próxima demais? Hoje já expusemos a trapaça. Mas estamos redescobrindo que um teatro sagrado é ainda aquilo que precisamos. Onde curá-lo? Nas nuvens ou na terra?”
Meus agradecimentos a Peter Brook, por me emprestar algumas ideias e palavras para traduzir aquilo que eu estava sentindo, e ao Coletivo Cê, pelo qual estou esperando para me ajudar a voltar para a casa.
Minha mala está pronta...
Lisa Camargo
CiadeEros
Verão, 2011